Turma História de Arte da Professora Ana Nobre
No dia 7 de fevereiro a turma de História de Arte da Unisseixal, realizou uma visita ao Hospital de Sant’Ana, antigo Sanatório de Sant’Ana, na Parede. A visita foi orientada pelos Srs. Carlos Teixeira e Pedro muito conhecedores e entusiastas a falarem de toda a história, não só do edifício, mas também da família responsável pela sua construção. Foi uma visita rica de Arte, Arquitetura, Ciência e Saúde.
O antigo Sanatório de Santa Ana destaca-se pela sua longa fachada, paralela à Avenida Marginal, que revela o gosto eclético da arquitetura portuguesa do início do século XX, ao qual se alia uma profunda capacidade funcional, bem expressa na articulação de espaços, serviços e equipamentos.
Foi construído no início do século XX, numa zona junto à orla marítima, particularmente rica em iodo, destinado a crianças pobres com tuberculose óssea, que durante a sua permanência no Sanatório, as meninas condições físicas para isso recebiam instrução, praticavam desporto e aprendiam música.
A iniciativa para a sua edificação partiu de Amélia e Frederico Biester, depois de uma trágica saga familiar que foi matando de tuberculose a amília Biester, que iniciou o plano de construção do sanatório. No entanto, acabou por ser uma familiar e última sobrevivente, Claudina Chamiço, que, aos 82 anos, conseguiu levar a bom porto, com o conselho e conhecimentos do Dr. Sousa Martins (que, entretanto, se suicidou por ter também ele contraído a doença), a construção de um sanatório de excelência, ao nível do melhor que se fazia pela Europa.
O Dr. Sousa Martins foi o primeiro responsável clínico pelo projeto, coordenado pelo arquiteto Rosendo Carvalheira. Foi iniciado em 1901 e, a primeira ala inaugurada três anos depois, muito embora apenas fosse totalmente concluído em 1912.
O edifício desenvolve-se numa planta em forma de cruz de Lorena sem a haste vertical. Na monumental fachada virada ao mar, destacam-se os seus azulejos, cantarias e grades de ferro, que expressam o extraordinário cuidado no desenho do pormenor.
Pudemos, também, observar a capela, neobizantina e neogótica, com esculturas do escultor Costa Mota, tetos de madeira na nave, de travejamento à vista, e a capela-mor em meia cúpula, pintada com firmamento, em neobizantino, iluminada por triflora axial e janelas com vitrais. Possui as paredes com três registos, o inferior de cantaria e os superiores com pinturas murais, representando motivos fitomórficos, panejamentos e monograma do hospital, tendo coro-alto em madeira, com cadeiral, abrindo-se lateralmente portas em arco de volta perfeita e tímpano decorado com relevos, galeria com arcada sobre colunas, púlpito e tribuna, os últimos acedidos por porta de verga recta, arco triunfal sobre colunas de arquivoltas pintadas. Um edifício hospitalar do início do séc. 20, de grande envergadura e dinamismo volumétrico, conseguido pela disposição e articulação dos corpos e ritmos de coberturas, construído com as mais modernas soluções de higiene, salubridade e ventilação.
Destaca-se, ainda, o jardim de Inverno, que era o recreio das crianças, com 300m quadrados, articulados por arcos abatidos e de volta perfeita, paredes revestidas a azulejos policromos Arte Nova, pintados à mão por Jorge Pinto e Ricardo Ruivo, de composição vegetalista assimétrica: com trepadeiras, folhagem e flores (girassóis, hortências, campainhas, papoilas, alcachofras) num entrelaçado sinuoso. Arte Nova no seu esplendor!
O sanatório foi pioneiro ao nível da ventilação, pelo que para se conseguir uma distribuição do ar marítimo por todo o edifício o chão das enfermarias e de outras salas possui uma grelha metálica central que recebia o ar puro. Este elevava-se até um teto com algum aerodinamismo, dotado de duas grelhas. No sótão, duas torres por enfermaria faziam o escape do ar circulante.
Junto às enfermarias, existem, ainda, quadros de controlo de entradas e saídas de ar para se coordenarem as condições interiores com as variações climáticas externas.
A sua longa história acompanha a evolução da medicina portuguesa, nomeadamente no combate à tuberculose óssea e, depois, no desenvolvimento da ortopedia.
É notório o contraste entre a ala S., virada ao mar e destinada inicialmente às crianças, com varandas alpendradas sobre colunas, para os doentes apanharem sol e, a austeridade da ala N., destinada aos adultos, e com um programa de reabilitação não só física, mas, também, do estado de pobreza e ignorância.
Por vontade da fundadora, no Hospital Ortopédico de Sant’Ana, reside uma comunidade de freiras dominicanas, que ao longo de 115 anos tem zelado pela instituição. Já chegaram a ser várias dezenas, hoje são sete. Com 78 anos, Celina Laranjeiro é a mais nova.
O hospital é, desde 1913, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e, é uma referência em ortopedia e traumatologia, há 120 anos que disponibiliza cuidados de excelência e contribui para a promoção da saúde da população e, além disso, promove estas visitas guiadas.
Apesar do tempo pouco convidativo a sair de casa, os resistentes não recearam em aventurar-se a fazer esta visita e acho que foi do agrado de todos. Obrigada à professora Ana Nobre, que apesar de não estar bem de saúde, nos acompanhou nesta viagem no tempo.
Texto de Albina Moura Rodrigues
BM
m.nataliaramos@gmail.com
Muito bom mesmo….
Parabéns!
Obrigada prof. Ana por estas memorias deliciosas!