Ao aproximar-se a interrupção das aulas por motivo de férias de Carnaval, os alunos das duas turmas de Relação Humanas com coordenação da sua professora Cecília Caldeira efectuaram uma visita de estudo ao Museu do Aljube, inaugurado em 25 de Abril de 2015, depois de obras profundas de remodelação no edifício e após o Dr. Alberto Costa, ao tempo Ministro da Justiça, ter cedido a pressões para que ali fosse instalada uma exposição que perpetuasse a repressão do regime ditatorial que governou o país entre 1926  e 1974,  o qual após a sua entrega à Câmara de Lisboa vem sendo utilizado como Museu da Resistência e da Liberdade.

Dado o elevado número de colegas participantes formaram-se dois grupos, tendo aquele onde estava inserido sido acompanhado pela responsável dos Serviços Educativos do Museu, Sra Dra. Judite, para nos conduzir numa visita guiada ao longo de quatro pisos.

No  piso térreo onde ao momento está patente uma exposição temporária dedicada a Jaime Cortesão, a nossa guia começou por nos explicar   o significado do termo Aljube, de origem árabe,  como sendo poço, cisterna, prisão, passando após a explanar  o historial do local .

O imóvel de construção muito antiga já funcionara como prisão eclesiástica até ao século XIX e foi depois transformado em prisão de mulheres, mas foi como prisão politica que o regime instituído em 1926 o utilizou  até ao seu encerramento no verão de 1965, em consequência das suas deficiências em salubridade e higiene e das condições deploráveis em que os prisioneiros eram mantidos nas suas celas de isolamento, chamadas de curros, num total de treze, condições estas que  eram amplamente divulgadas e exploradas pela oposição.

Aqui estiveram aprisionadas ilustres  personalidades da oposição ao  chamado Estado Novo, que  entre os interrogatórios e torturas a que eram sujeitos  pela policia politica no edifício da António Maria Cardoso, eram para aqui trazidos.

A descrição geral do regime ditatorial que nos governou durante quase meio século e dos seus meios de opressão como a censura, policia e tribunais políticos; aspectos relacionados com a luta dos povos das colónias para a independência; derrube do regime pelo golpe militar de 1974 e diversas manifestações de luta da população no combate à ditadura no sentido de pôr fim à falta de liberdade,ao isolamento internacional, ao baixo grau de desenvolvimento económico e cultural a que o país estava sujeito, são temas invocados nos pisos 1, 2 e 3, através de documentação diversa que cobre as paredes das salas.

A referência às "certezas indiscutíveis" do regime de Salazar ("Deus, Pátria e Família") em contraponto com a importância da imprensa clandestina, como único veículo de informação sobre o que realmente se passava no país e no mundo; a clandestinidade necessariamente mantida pelos opositores ao regime, foram temas invocados.

Também não faltam alusões ás diferentes etapas sofridas por alguém a partir do momento em que fosse detido; os processos de identificação, os interrogatórios acompanhados de torturas psicológicas e físicas onde reinavam a estátua e a do sono que se chagava a prolongar por semanas; á organização clandestina e à preparação de fugas; por último a deportação para campos de concentração nas colónias, aproveitando a nossa guia para sugerir o visionamento de um filme que corre no YouTube intitulado "Quem é Ricardo?" .

Tomámos contacto com uma reconstrução dos curros, celas de dimensões exíguas, onde mal cabia um catre, fechadas com uma primeira porta gradeada a que se seguia, algo distante, outra em madeira dotada de uma vigia. Aqui pudemos escutar o som das batidas usadas como sistema de comunicação em código entre os detidos.  Junto a estas celas um telefone, ao tocar, era usado como forma de tortura psicológica.

Igualmente observámos o modelo de uma casa clandestina cujos frequentadores procuravam transmitir a imagem de uma normal família, destacando-se a máquina de escrever dentro de uma caixa em madeira onde entravam as mãos para que o barulho das teclas fosse abafado, e o sistema de impressão de comunicados e panfletos teclados no stencil.

Chegámos assim ao último piso onde está exposta documentação fotográfica relacionada com aspectos marcantes do colonialismo, das lutas de libertação dos povos coloniais e da guerra colonial.

Muitos dos opositores vítimas do sistema opressivo a que estivemos sujeitos e que ficaram pelo caminho, são aqui evocados sendo-nos também apresentadas várias imagens dos momentos vividos por altura do 25 de Abril, e é expresso o empenhamento do Museu na preservação e divulgação da Memória Histórica enquanto actos de Cultura e de Cidadania

Ao finalizamos a visita não faltou uma fotografia de grupo com a Dra. Judite, a quem a nossa professora fez a oferta de um azulejo pintado pela colega Glória Silva, como testemunho da nossa passagem pelo Museu.

Ainda houve colegas que subiram ao último andar  onde se localiza um Auditório, funciona uma cafetaria e se  avista a cidade e o rio,  enquanto outros desceram ao piso 1 onde se podem observar parte das estruturas do edifício e uma mostra arqueológica de peças extraídas do seu subsolo.

O Aluno Hugo Morais

20-02-2020

Aljube-Turma Relações Humanas