Mas será possível?
Um olhar sobre a Tertúlia Alentejana
Saí de lá quatro horas depois de ter entrado naquele grande Salão Scalabrini, da paróquia de Amora, onde quase 300 pessoas se juntaram para conviver e ouvir falar do Alentejo, uma província do sul cheia de especiais prerrogativas.
Fiquem descansados, não vou demorar tanto como naquela tarde de quarta-feira, dia 3 de abril. E volto a perguntar: será possível manter tanta gente em silêncio total a ouvir uma dezena de oradores a explicar-nos o muito que o Alentejo tem de característico, silêncio cortado apenas para as palmas merecidas a cada participação? Pois, sim, é possível.
Rapidamente, passou-se o seguinte:
Primeira mesa, presidida pela reitora Mariana Mareco: o prof. António Pontes a falar do cante alentejano – origem e formato (com ponto, alto e coro), mistura de religioso e berbere, dos bonecos de Estremoz (mais de 100 figuras) e dos chocalhos de Alcáçovas que, além de sinalizarem o gado, também já tocam em orquestras (tanto património cultural da humanidade!), a prof.ª Teresa Silva a encantar-se com as cores do Alentejo (castanhos, verdes, amarelos, azuis e brancos e ainda os vermelhos das papoilas), a prof.ª Maria Guadalupe a encantar a assistência com as expressões linguísticas do Alentejo e ainda as duas prof.s Amélias – Costa e Lopes – a entoar a Toada de Portalegre de José Régio. Ainda aplaudimos Florbela Espanca, dita pela prof.ª Maria das Dores, antes das Danças Populares, o grupo da prof.ª Ondina Monteiro.
Tanta beleza na arte de falar, de dizer e de dançar a merecer muita atenção e palmas!
Depois, veio a segunda mesa de trabalho: o Dr. Natalino Bolas, Vice-reitor, fala dos anos 50, da agricultura do tempo, das profissões tão adaptadas às necessidades, dos trabalhos sazonais, dos porcos com arganel, dos sobreiros e da cortiça, tudo com imagens e a vivacidade de quem “passou a vida a semear trigo”! Depois, a Reitora descreve o Alentejo moderno, cheio de mudanças, a começar pela barragem do Alqueva (2002), que permitiu outras culturas – olivais intensivos, sobreiros regados, amendoeiras, pêssegos e nectarinas, nogueiras, romanzeiras e vinhedos. Não esqueceu a riqueza das águas, dos minérios, mármores, granitos e xistos, das indústrias ligadas ao porco e ao leite e lembrou ainda a riqueza do porto de Sines e do turismo. Ana Campos fez-nos crescer água na boca com a sua gastronomia alentejana: azeite, ervas, pão e queijo, torresmos, açorda, sopas de tomate, beldroegas, cação, gaspacho e sarapatel, migas e cozido de grão, ensopado de borrego; e peixes do rio e sericaia, folhados e encharcada, alcomonias e pinhoadas… E os vinhos?!
Seguiu-se a participação especial do grupo de cantares alentejanos da Universidade Sénior de Montemor-o-Novo, que terminou com as quadras da açorda: «É fácil fazer / Dá pouco trabalho / É água a ferver / Coentros e alho // Coentros e alho / E água a ferver / Dá pouco trabalho / E é fácil fazer…
Terminou esta rica tertúlia com a degustação dos produtos gastronómicos do Alentejo espalhados por duas fartas mesas, contributo de todos os presentes. Uma exposição de artefactos típicos enriquecia mais esta festa de cultura e convívio. Parabéns a todos os que viveram este encontro, disse a D. Helena Quinta, da Junta de freguesia de Amora.
Texto de AH / Fotos e Vídeos  de AM