Realizou-se no dia 10 de maio do corrente ano de 2017 mais uma quarta-feira cultural. Desta vez, subordinada ao tema em epígrafe. Esteve a cargo do prof. doutor António Ventura, professor catedrático de História e diretor da área de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Segundo o palestrante, a origem histórica da Maçonaria situa-se na Idade Média, nalguns países a norte da Europa, Alemanha e norte da Itália. Surgiu como sendo uma corporação de pedreiros (profissão que englobava todas as atividades ligadas à construção de edifícios, como pedreiros, carpinteiros, arquitetos, engenheiros, etc.). Dotada de estatutos e de um chefe, que também funcionava como juiz, tinha entre as suas finalidade a formação e a proteção dos seus membros e a guarda dos conhecimentos inerentes à atividade de construção.
Essas corporações organizavam-se em lojas “estaleiros”, cada qual com o seu mestre.
A partir do século XVII, passaram a ser admitidos nessas lojas o que hoje chamaríamos de sócios honorários, ou seja, outras profissões.
Em 1717 juntaram-se 4 lojas (3 de Londres e 1 de Westminster), dando origem à primeira grande loja, a Grande Loja de Londres, englobando já as mais diversas profissões. A Maçonaria passou então a ser um novo espaço de convívio e tolerância em que os membros manifestavam as suas opiniões e escutavam as opiniões dos outros. Nessa altura começaram a surgir criticas à Maçonaria por permitir o convívio de cristãos com hereges.
A Maçonaria, a exemplo da Igreja e da Monarquia, é um do pilhares fundamentais da Inglaterra, de tal modo que o grão-mestre é sempre oriundo da família real inglesa.
Em 1723 surgem as constituições de Anderson que vêm precisar melhor as regras de funcionamento da Maçonaria.
Nos EUA a Maçonaria é uma instituição muito respeitada, nunca tendo sido objeto de qualquer perseguição. Dezassete presidentes daquele país foram maçons (o último foi Barack Obama).
No Brasil ser maçon é uma situação perfeitamente natural, de tal modo que todos os anos é comemorado o dia nacional da Maçonaria.
Em Cuba a Maçonaria nunca foi proibida. O edifício da grande loja, anterior à revolução cubana, continua a funcionar.
Alguns Maçons célebres a nível mundial: Frederico II da Prússia, Guilherme I da Alemanha, Jorge VI da Inglaterra.
Em Portugal a Maçonaria começou em 1727, apenas composta por comerciantes ingleses, na altura sem perseguição. Em 1733 surge a segunda loja, com o nome de Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia, ainda com todos os membros estrangeiros e contando apenas com um naturalizado português.
Em 1738 o papa Clemente II condenava a Maçonaria.
Durante o governo de Marquês de Pombal não há perseguição à Maçonaria, o que leva ao seu grande desenvolvimento em Portugal e ao aparecimento de lojas já com a entrada de portugueses. Com a morte do Marquês de Pombal, muitos Maçons são perseguidos e têm de abandonar o país.
Em finais do século XVIII já existiam várias lojas maçónicas em Lisboa cuja penalização foi atenuada com a chegada de muitos oficiais ingleses que tinham vindo ajudar e proteger Portugal contra as invasões francesas. Surge nesta altura a primeira grande loja: o Grande Oriente Lusitano.
O intendente Pina Manique foi o grande inimigo da Maçonaria, apesar de o precetor dos seus filhos, o Prior dos Anjos, ser Maçon (sem que ele o soubesse).
Com as invasões francesas, a Maçonaria foi acusada pelos setores mais reacionários de ter pactuado com os franceses, nomeadamente com Junot.
Terminada a invasão dos franceses, Gomes Freire de Almeida foi eleito, em 1817, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano.
A revolução de 1820 foi feita por muitos liberais que, na sua maioria, eram Maçons, o que contribuiu para que muitos deles viessem a integrar o governo e as cortes constituintes.
Nas lojas maçónicas, formalmente não é permitido discutir política (entenda-se politica partidária) e religião, o que não significa que tal não aconteça.
Após a guerra civil entre liberais e miguelistas, existiam 3 grandes lojas em Portugal: o Grande Oriente Lusitano, a Maçonaria do Sul (cujo grão-mestre era o general Saldanha) e Maçonaria do Norte (cujo grão-mestre era Passos Manuel).
Em 1869 juntaram-se várias lojas maçónicas e surge a loja Grande Oriente Lusitano Unido, tendo sido eleito como grão-mestre, em 1895, Bernardim Machado.
Lisboa e Porto foram os principais pontos de disseminação da Maçonaria, a qual se espalha também muito pelas colónias portuguesas, nomeadamente por Cabo Verde através da Loja Fidelidade, em 1907.
Em 1880, no centenário de Luís de Camões, a Maçonaria mostra-se tendo saído à rua pela primeira vez.
Em 1898 a Maçonaria tinha 683 membros, distribuídos por 49 lojas, e em 1913 tinha 4.341 membros em 222 lojas.
Durante a I República, a Maçonaria teve um grande desenvolvimento com muitos Maçons a ocuparem cargos no governo e em outros órgãos de soberania.
Com a revolução de 1926, apenas o Partido Comunista Português foi proibido, tendo a Maçonaria continuado legalizada.
Em 1930 o general Norton de Matos foi eleito grão-mestre da loja Grande Oriente Lusitano Unido.
Em 1935 a Maçonaria é proibida e os seus bens confiscados. A sua sede foi entregue à Legião Portuguesa, que aí funcionou até 25 de abril de 1974.
Algumas lojas foram encerradas e os seus arquivos queimados. Mesmo na clandestinidade, no entanto, algumas lojas foram abertas.
Em abril de 1974 existiam 4 ou 5 lojas em funcionamento e algumas dezenas de Maçons, entre os quais o Dr. Palma Carlos, que era um elemento bastante ativo.
As lojas tinham que ter 7 mestres, sendo condição indispensável aos seus membros saber ler e escrever, independente do património detido por estes.
Face à existência de lojas pequenas e à dificuldade destas possuírem 7 mestres, foi então introduzido um novo conceito, “o triângulo”, que podia funcionar com 3 mestres, o qual se transformaria em loja, caso se verificasse o seu crescimento.
A criação do primeiro triângulo no Seixal teve lugar em 1905, tendo este, no ano seguinte, sido transformado em loja, a Loja Elias Garcia, cujos membros eram ferreiros, marítimos, comerciantes, carpinteiros, etc. e que adotavam um nome simbólico, ou seja, um pseudónimo.
Em 1921 abriu outra loja no Seixal: A Jornada.
Na sua origem a Maçonaria tem como objetivo o aperfeiçoamento e formação das pessoas e que isso se projete na sociedade.
O avental, um dos símbolos mais conhecidos da Maçonaria, representa de facto o avental que no seu início era usado em muitas das profissões (carpinteiros, ferreiros, etc.) para servir de proteção das suas roupas.

Texto de José Gonçalves

Fotografias de Alberto Maia